Aeroclube
O artigo que
publicamos sobre o aero clube de Tubarão fazia parte das minhas lembranças
desta entidade que a tantos reuniu.
O avião trazia
emoções nas decolagens, aterrissagens e hoje a lembrança dele revive todas
elas.
Ele permitia a
todos visualizar um amplo horizonte e como já relatamos favoreceu a descoberta
da Jaguaruna.
O hangar do
aeroclube acomodava o Teco-Teco, também conhecido
por Paulistinha porque era fabricado em São Paulo e o nosso ostentava o
registro nacional de PP- RDX , pintado em cor laranja com a cauda vermelho
escuro. Lá em razão de segurança eram
guardadas as ferramentas de manutenção e algumas peças emergenciais.
A gasolina de extrema
pureza e cor esverdeada com perfume muito agradável e delicado, embora eu não
saiba qual a sua octanagem, sei que era muito potente para utilizar nos carros
da época.
Os óleos
respeitavam qualidades especiais para funções bem definidas, também específicas
para aeroplanos. Esta valiosa essência
era guardada num galpão localizado no fundo do terreno da nossa casa nos altos
da rua Coronel Cabral, ao lado do grupo Hercílio Luz em frente à agencia dos
correios.
Talvez nenhum
dos pilotos tenham sabido, mas, um dia obedecendo a astucia infantil ao redor
dos meus seis anos encontrei um sapo destes cascudos branco e preto que tantos
existiam em Tubarão. Sobre ele coloquei
álcool e ateei fogo, o pobre bicho saiu saltando como uma bola de fogo e se
escondeu embaixo do abrigo dos combustíveis. Melhor que as chamas apagaram com
rapidez e o sapo bomba continuou vivo e o rancho não explodiu.
Fiquei de
castigo, sem pipoca e não fui a matiné do “Gordo e o Magro” no cine Azul. Depois foi inaugurado o novo cinema com o nome
de São José anexo ao Hotel.
Algumas
lembranças fragmentadas me passam pela cabeça de aventuras mal sucedidas, duas
delas buscavam atingir Lages que já contava com campo de pouso.
O instrutor
Milton foi subir a serra acompanhando o traçado da atual serra do Rio do Rastro
e caiu logo acima na região conhecida como Campo dos Padres junto aos Aparados
da Serra, numa localidade chamada Santa Barbara próximo à Vacas Gordas
município de Urubici. Amarrou o avião e negociou com os moradores da
região para que cuidassem até seu retorno para buscara aeronave. Quando visitei este
lugar anos depois constatei que até hoje esta história é cultuada e lembrada
pelas pessoas da região e na conversa de galpão em torno do fogo de chão,
fiquei surpreso pois, ali estavam vários daqueles que cuidaram do aeroplano e
ajudaram no seu resgate. Contaram que
chegou o Dr Varela e pediu para fincar um cepo forte no chão. Percorreu o campo
em direção ao despenhadeiro uma vez que era curto em estreita faixa ladeada de
banhados.
Conferida a
possibilidade, amarrou a bequilha do avião no cepo e orientou que daria um
sinal na hora de cortar a amarra. Checados
combustível e comandos, acionou o motor que era manual rodando a hélice, deu
muita velocidade e no limite da rotação foi cortada a corda e saiu, acabou a
pista o avião teve uma queda no vazio da montanha, ganhou sustentação e voou para Tubarão. Solon Costa Neves e o instrutor também caíram
na mesma região, o avião na verdade pousou sobre uma árvore e ele se preocupou
em recolher o combustível que vazava de tão difícil que era obtê-lo. À época
explicaram que ali nos aparados na região de Guatá as correntes ascendentes
sofrem inversão repentinamente e os aviões pequenos sofrem sucção e são levados
ao solo.
Motivado
pela outra crônica recebi carta de onde vou extrair parte: “ Li, reli emocionado o AERO CLUBE DE TUBARÃO
de sua autoria, no jornal Diário do Sul. Voltei no tempo, alcancei as décadas
1940 / 50 /60, revi amigos, revi colegas, voei bastante no inesquecível Teco
Teco PP-RDX, fiz provas e recebi a CARTA E LICENÇA DE PILOTO DE AERONAVE DE
RECREIO E DESPORTO.”
Cornelio
Vieira Neves enviou uma linda e carinhosa carta recordando nossa meninice (eram 30 garotos e garotas) a quem ele acompanhou toda
evolução como vizinho da mesma rua Ferreira Lima. Ainda fez acompanhar como
mimo, um tesouro que ele me obsequiou como a foto emoldurada dos pilotos
brevetados da época.
Foi a minha
vez de ficar emocionado.