sexta-feira, 11 de março de 2011

O Belo

O belo é dependente
Tempo, local, bom gosto, discrição, suavidade, delicadeza, harmonia e autenticidade são os predicados e adjetivos que definem e qualificam o belo. Por vezes a ousadia associada aos requisitos anteriores, logra obter grande beleza.
A face talvez seja o segmento do corpo humano que recebe a maior atenção das pessoas.
Também é verdade que algumas pessoas se notabilizam por outra parte do corpo, mas, mesmo elas não podem dispensar o valor do rosto neste conceito.
É ela que nos caracteriza e permite que sejamos conhecidos ou nos deixe reconhecer os outros pelos detalhes do queixo, nariz, orelhas, pescoço, olhos, cabelos e cores que dependem dos genes familiares que nos fazem parecidos com os nossos parentes.
O homem desde a criação conta com filósofos e artistas na busca do conhecimento destes detalhes, Da Vinci, Michelangelo, Fibonacci, Descartes, Darwin se dedicaram ao estudo da forma do homem e das coisas.
Desenvolveram conceitos de proporcionalidade entre as unidades anatômicas onde seus tamanhos se envolvem com a matemática e função. Da Vinci e Michelangelo definiram as proporções e relações de tamanho e posição do nariz com os olhos e as orelhas que quando se as obedece advém a harmonia e eles lograram. Fibonacci descobriu e determinou uma seqüência numérica que explica as espirais, a distribuição e organização das sementes no girassol, favo de mel, seu formato e daí transportado para pintura, escultura, arquitetura porque definia a proporção também respeitada pela cirurgia plástica na busca do belo.
O tempo e o espaço conjuminaram para variar a forma alterando o superficial sem ofender o essencial e assim manter a beleza. Então é valido pensar que o belo varia no tempo e no espaço segundo os conceitos culturais do individuo ou da coletividade. Descartes determinou a forma de se fazer uma pesquisa e dela extrair uma conclusão. Darwin constatou em suas pesquisas a existência de detalhes que permitiram relacionar a variação do formato segundo a necessidade. Ruffini em 1925, em seus estudos interpretou e conceituou que “a forma é a imagem plástica da função”. Para entender esta afirmação, basta observar os peixes que se alimentam de material flutuante e tem sua boca na porção alta da cabeça, aqueles que comem alimentos da lama tem a boca na face ventral, os outros que roem das pedras tem dentes fortes e boca na frente e os que comem por filtração tem boca bem grande para passar a água do rio como jaú, surubi, jundiá, etc.
Estudada a anatomia foi determinado para cada etnia aquilo que poderia ser considerado normal e aquele que estivesse diferente era anormal e não belo.
A orelha com suas reentrâncias para atender a acústica, os olhos em globo para permitir a captação da imagem e movimentos giratórios, as mãos e pés com seus dedos e unhas, são aceitos como belos quando harmônicos e bem formados.
A harmonia dos traços, cores e volumes é que gera o prazer com bem estar pela visão do belo e a conseqüente confiança e autoestima.
Ainda que não haja modismo no feitio do rosto, a forma de decoração sofre ação dos costumes como brincos, pinturas, tatuagens e outras invenções.
O homem em sua criatividade iniciou estas complementações desenvolvendo a maquiagem. No início os índios e outros povos belicosos se apresentavam com pinturas feias nos seus rostos, imitando formas temidas da natureza, com isto pretendiam incorporar seus poderes e provocar medo no adversário. A vontade de interferir nestes elementos na busca da suavidade, simetria e harmonia é que impulsiona a cirurgia plástica ao encontro da beleza criando técnicas que permitam devolver ou aproximar dos padrões anatômicos agradáveis aos olhos, todavia deve ser evitado o exagero que induz ao resultado desproporcional e comprometedor.
Toda pessoa que não se vê dentro dos critérios de graça e beleza concebidos em sua comunidade, buscam através de artifícios como maquiagem, lentes de contato, perucas, mudança da cor dos cabelos, cortes e penteados, unhas decoradas, etc.
Enquanto perdurar a satisfação com estes recursos existe a felicidade, entretanto quando se desencontra, iniciam as agressões silenciosas à autoestima. Na adolescência, controlados pelo ímpeto de seus sentimentos é quando se recolhem em função de problemas por vezes vistos como sem importância pelos adultos. Esta impressão cala tão profundo, que por vezes permanece por longos anos. Outros defeitos surgem por tirania e desrespeito do tempo agravados pela fisiologia e ou opiniões amigas. A cirurgia plástica estuda as maneiras mais seguras e cômodas de oferecer auxílio na busca da solução para os desejos mais íntimos do individuo, modificando a forma de tudo que se apresenta alterado, sempre respeitando a razão.

O Trem.

O trem

Saudando o Dr José Warmuth pela iniciativa do museu da estrada de ferro, associo-me lembrando momentos de nossa convivência com o trem e sua estrada.
A fumaça cinzenta, espessa com muito material em suspensão e cheiro de gazes intestinais, graças ao enxofre que fazia parte do carvão, cobria a tudo e a todos.
A hulha originária do sul do estado que pela contaminação com o enxofre era desqualificada para a indústria do aço, restando apenas a capacidade de produzir calor e de espalhar cristais dourados de perita que pensávamos se tratar de ouro.
Esta energia, inicialmente utilizada para mover as locomotivas, ingressou na produção de eletricidade e depois ácido sulfúrico também.
Beneficiada em Capivari de Baixo, embarca em Imbituba, navega até o porto de Tubarão em Vitória no Espírito Santo e por fim como coque é usado em fornos das indústrias de beneficiamento do minério de ferro.
Com estas vantagens a cidade de Tubarão se desenvolveu em torno e ao longo da ferrovia e sediou a Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina, cabendo-lhe organizar as oficinas que faziam a manutenção de tudo que a ela se referisse.
Estudou na sua escola uma grande quantidade de competentes técnicos capazes de produzir tudo desde as locomotivas, modificações em carro, como o Chevrolet 39 transformando em litorina, até o mais delicado parafuso de precisão.
Em todas as empresas da cidade existia algum artista torneiro que reproduzia as peças necessárias para reparar os carros, tratores e outras máquinas à época importados.
Tal era a importância deste plantel de operários que com a enchente, Joinville os importou a todos em tamanho numero que lá gerou bairro e rua com o nome de Tubarão.
A cidade cresceu e recebeu muitos migrantes incluindo eu que em 1943 cheguei vindo de Florianópolis pouco tempo após o nascimento.
Cresci ouvindo as propagandas feitas pelo Fuzaca com seu megafone de lata e conversando com o Chico da Patança e sua capa preta próximo à padaria do seu Juca ao lado dos trilhos, morava agora na esquina da rua Ferreira Lima com a rua Coronel Cabral onde ficara a primeira casa.
Vivendo num misto de respeito sem medo, muito abusamos dos recursos deste monumento.
Com meu irmão Fernão andávamos sobre a estrada unindo os braços e conduzindo as bicicletas lado a lado, cada qual sobre um trilho. Noutras oportunidades, aproximando bem agachados, amassávamos a ponta de longos pregos sob as rodas como se fosse uma bigorna para fazer faquinha ou ponta de flecha.
Lindo era apreciar quando os ferroviários trabalhavam trocando trilhos que os obrigava pregar grandes cravos nos dormentes de madeira, batendo os martelos em oposição com movimentos intercalados, repetidos e bem ritmados saindo depois em seus troles movidos com bambus como se fosse remos de canoa. Estas peças de fixação quando abandonadas, recolhíamos para usar como punção e esculpir carrinhos em tijolos, desta forma acabamos em casa com um milheiro deles na busca de uma perfeição que não podíamos encontrar.
Odiava ir corrigir algum problema de fusível elétrico, em baixo do assoalho ou sobre o teto, pois neles havia uma camada fina de fuligem depositada pela fumaça que desprendia na passagem das barulhentas locomotivas, pois nos deixava imundos e totalmente pretos.
A estação principal da cidade, sempre com movimento de idos e vindos, suas malas e pacotes, acompanhados de recepções e despedidas, pois comboios mistos ou específicos por ali passavam unindo todo sul do estado ao transportar carvão e passageiros, sempre mantendo correto o horário.
As pessoas de Florianópolis ou outra origem chegavam à Laguna de navio e se dirigiam para o sul do estado romanticamente de trem, eram viagens de longa preparação e ninguém as fazia por menos de quinze dias e é lógico que movimentavam seus baús e grandes malas.
Ao longo do tempo os trilhos foram retirados do centro da cidade resultando num incalculável benefício, pois reduziram os acidentes e desapareceu a fumaça responsável por tantos males de saúde dela dependentes, sem contar a limpeza das folhas das árvores da praça e telhados das casas.
Tudo era enegrecido, pois além da fumaça tinha a poeira das estradas que eram cobertas com as cinzas do carvão e os pequenos rios tinham as águas transparentes com cor castanha e sem peixes.
Agora com as máquinas movidas a diesel e o asfalto cobrindo os caminhos a limpeza se instalou e o prejuízo é menor.
Apesar do saudosismo a cidade e a região ganharam muito basta olhar os verdes arrozais que a contornam.