quinta-feira, 11 de abril de 2013

Aeroclube de Tubarão




Aeroclube de Tubarão
Após a guerra reinava o espírito militar. Era evidente a certeza da necessidade de preparar a população nas artes bélicas, ou seja, militarizar o povo e manter uma reserva preparada para a próxima guerra. Existiu a grande guerra de 1914, reativada 18 anos depois pela desavença e ambição de um homem que iniciou outra em 1939. Talvez seu causador tenha se sentido superior aos antecessores que, para sua região, poucas vantagens obtiveram.
Entre os outros países que participaram de batalhas mortíferas e sangrentas, houve massacres covardes como o de 7 de dezembro de 1941, contra a base naval americana de Pearl Harbor, no arquipélago do Havaí, fato que induziu aos EUA a entrarem na contenda. Atrás dele foram arrastados outros países, como o Brasil. A vingança americana foi consumada em Hiroshima e Nagasaki, com as bombas atômicas que talvez não tivessem sido lançadas fossem conhecidos os poderes destrutivos que elas possuíam. Mas deixou o mundo perplexo na ocasião e apreensivo com o futuro, pois em outra guerra este artefato, já de domínio de outras nações, pode determinar a morte da raça humana. Este medo é tanto maior quanto mais possa este conhecimento terminar em mãos fanáticas, que mantêm verdadeira tropa de “homens bombas” - suicidas religiosos que creem na salvação eterna obtida com este sacrifício que os levaria ao paraíso, da forma que acreditam existir. Dentro deste espírito tudo girava em torno da vitória em 1945, onde a moda era baseada em modelo de fardas ou simulando seu feitio. Os cabelos das mulheres eram penteados como os das atrizes americanas e os homens cortavam como os que usavam os militares. Nos crianças, usávamos o corte que deixava apenas o topetinho, como o Ronaldo Fenômeno utilizou na Copa de futebol no Oriente e os jovens usavam o tipo escovinha que chegou a alcançar o ator James Dean.
Nesta época, morávamos ao lado do Grupo Hercílio Luz, na rua Coronel Cabral e em frente ao Correio. Nosso terreno alcançava a rua São José, onde tinha o açougue do Seu Dorinho. O aeroclube ficava onde depois foi o campo do Grêmio Cidade Azul, com as cores azul e branco, que não subsistiu ao tempo, dando seu espaço à sede da Stan.
O caminho antigo seguia as seguintes ruas de hoje: r. Coronel Cabral, através da r. Ferreira Lima; r. São José até a r. Santos Dumont e através da qual em algumas quadras estava o campo do aeroclube, com seu campo de pouso e decolagem ladeado pelo hangar construído em madeira.
Era uma pista curta, de mais ou menos 300m, cercados por armações de arame, rodeada por pasto de gado, roças de milho e outros. Continuando ao leste, chega “nas Congonhas”, onde tinha um sambaqui e uma grande caieira queimando conchas para obter cal e rejeitava os ossos e instrumentos de pedras polidas, ou seja, ossos de índios, porque produziam uma cal de má qualidade. Entre o campo e o mar existia a lagoa da Manteiga, que os separava da praia.
Na cabeceira ocidental tinham duas laranjeiras que obrigavam os pilotos pousarem, tocando a bequilha na copa da segunda e alguns caíram tocando a copa da primeira. Da mesma forma a cabeceira oriental encostava numa plantação de milho e aqueles que esqueciam de abrir a torneirinha podiam fazer apenas as manobras iniciais de decolagem com a gasolina da tubulação do tanque ao motor e caíam na roça por falta de combustível.
O aeroclube era organizado com nomes como Milton, seu instrutor, Pacheco, Peri Camisão, Manoel Aguiar, Túlio Feuerschuette, Cornélio Neves, Solon Costa Neves e outros, reunindo significativo número de senhores da sociedade de Tubarão de 1945. O combustível especial era vendido em latas do tipo de querosene, guardadas na nossa casa num rancho de madeira no fundo do quintal, na rua coronel Cabral.
Avião um paulistinha, também conhecido como “Teco Teco”, feito com estrutura de finos canos de aço entremeada por madeira muito leve, do tipo pau balsa, recoberto com tecido Parabrisa em celuloide, comandos mínimos como alheiron, profundor, leme, flap, tubo de Pitot, bequilha, freio, pedais e mancho. No painel tinham alguns relógios, bússola, altímetro, marcador de nível por eles chamada de bolha, comando de contato elétrico, torneira de gasolina, tanque de gasolina com um estilete visível que marcava a quantidade de combustível restante.
A propulsão contava com motor de pistões radiados, hélice de madeira, com cerca de 40 cavalos de força, que não venciam o vento quando este soprava contrário ao rumo desejado. Ainda hoje, o “Teco Teco” é utilizado como avião escola em muitos aeroclubes do Brasil, e seus pilotos compõem o corpo de pilotos da reserva da aeronáutica.

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