domingo, 16 de setembro de 2012

A Estrada BR 282

Até Lages esta estrada na verdade não é tão nova. Como todas as outras sempre acompanhavam o curso de um rio que em algumas regiões obriga uma seqüência de pontes para cruzar o rio que serpenteia na planície ou acompanha um vale sinuoso entre as montanhas. Há mais de século é a rota das tropas que desciam do planalto lageano para trazer seus produtos até Florianópolis e através de caminhos dela derivados levavam à Tijucas que neste momento mantinha importante porto com grande movimentação de cargas com Santos e Rio de Janeiro. Para esta movimentação havia a trilha por onde os tropeiros viajavam com suas tropas de animais de carga preferencialmente mulas. Como sobre elas eram colocadas boa quantidade de volumes, surgiu a expressão “mula de carga” para alguém que se propunha transportar grandes volumes ou para o malandro que justifica com “ não sou mula de carga” para evitar qualquer tarefa. Após o aparecimento dos carros e caminhões se fizeram necessárias as estradas. Não havia máquinas como as de hoje e eram raros os pequenos tratores, alguns conforme se vê em livros movidos à vapor que aqui seguramente não foram utilizados. Para construir uma estrada aproveitava-se o trajeto já definido pelas tropas que sofriam melhoramentos ao serem alargadas para corresponder as necessidades da época. Para caber um veículo eram obrigatórias obras de arte como pontes, bueiros, muros de contenção, revestimento com saibro, material pedregoso do local. Neste trabalho as mulas foram as heroínas que permitiram, transportando no lombo em cangalhas ou puxando carroças mobilizar grandes volumes de terra e pedras para fazer aterros, pregos, ferros, madeiras e toras para pontes e pontilhões, telhas para cobrir as pontes, explosivos para quebrar pedras, sacas de cal e cimento para vários usos, etc. Sem dúvida o relógio deles era mais lento e tinham todo tempo da vida. No mar os navios eram a velas e depois a vapor igualmente vagarosos. Neste circulo de atividades entrelaçadas e interdependentes que aconteciam lentamente deixavam o homem participar dela e usufruir de maneira tranqüila. O trabalho era executado acompanhando o terreno e contornando os acidentes geográficos das encostas e as estradas quando terminadas eram sinuosas pela circunstancia do próprio relevo. Por isso é que se dizia quando as estradas eram cheias de curvas que seus construtores eram pagos por quilometro construído. Quando possível eram construídas retas e os pilotos as chamavam de tira atraso por permitirem imprimir maior velocidade e tornar mais rápida a viagem. Havia rios que permitam a travessia por dentro d’ água pois não eram profundos e seu leito seguro, outros exigiam pontes. Construídas em madeira em geral recebiam telhados que as protegia das chuvas e as tornava mais seguras reduzindo os escorregões dos carros sobre seus trilhos molhados e lisos montados com taboas alinhadas no mesmo sentido do curso dos veículos. Enquanto os carros eram de boi ou carroção os defeitos produzidos no leito das estradas eram valetas paralelas às suas margens, quando chegaram os veículos com molas as rodas saltitavam e os defeitos se tornaram transversais, perpendiculares às margens e foram batizados com o nome de costeletas e os para fusos afrouxavam todos exigindo reaperto ao final de um percorrido maior. Na região de Rancho Queimado se pode observar o material que forma os barrancos ao lado da estrada. De cor ocre (castanho claro , terra de Sienna ou mostarda) é montado como se alguém com muita paciência tivesse ali organizado finas camadas que uma vez agredidas se rompe em pequenas placas esfareladas. Este minério e a argila quando seca, bastante explorada pelas cerâmicas produtoras de pisos e azulejos depois do moídas e misturadas em suas massas. Entretanto quando cobriam o leito da estrada e ocorria chuva, virava uma pasta que aderia aos pneus tornando-os maiores na altura e banda de rodagem impedindo o deslocamento, pois patinava sem sair do lugar. Por e4sta razão todos os carros levavam consigo aparelhos engenhosamente enlaçados de maneira fazer uma rede de corrente de ferro para ser colocada em torno do pneu e permitir sua aderência e transposição do obstáculo. Vencida a dificuldade, era retirada sujando todo o porta malas com lama, pois do contrario roíam a borracha das rodas. Voltarei ao tema.

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