terça-feira, 15 de março de 2011

Praia da Jaguaruna - Arroio Corrente

Dunas da Jaguaruna
Em faixa contínua, iniciam nas rochas do Cabo de Santa Marta e vão lentamente perdendo sua magnitude até chegarem à cidade portuária de Rio Grande no extremo sul do Brasil, continuam em estreita faixa até Punta del Este no Uruguai e acabam onde inicia a desembocadura e domínio da foz do Rio da Prata.
O trecho que correspondente à praia da Jaguaruna na verdade é aquele em que as dunas ocupam o maior espaço entre o mar e o limite da vizinha vegetação natural. Cerca de 2 quilômetros é recoberto por farta camada de fina areia de tons variados que se mobilizam ao sabor do deslocamento de ar, mudando constantemente de forma e posição.
Por definição a duna nunca é coberta por vegetação e obrigatoriamente deve sofrer a ação dos ventos, quando o volume de areia forma uma colina fixada e vestida por rala ou compacta vegetação então é um morro de areia, esta é a definição do geógrafo Professor Peluso registrado em seus estudos e tese defendida na Universidade Federal de Santa Catarina. Por lei é intocável, hoje respeitada no município de Florianópolis o mesmo não acontece em outras regiões.
Perdidos entre tantas dunas estavam os “morros das conchas” (sambaquis), onde podíamos encontrar fragmentos de ossos humanos, de peixes, bem como utensílios de pedras polidas como pontas de flechas e as que chamávamos de “machadinha de índio”.
A Praia da Jaguaruna no inicio ocupou o espaço revestido por grama que existia junto ao Arroio Corrente com amplitude suficiente para acomodar toda a primeira comunidade, depois ela se desenvolveu e os cômoros ao seu redor foram destruídos incluindo aqueles das conchas, em nome do progresso e desenvolvimento.
Para conter o movimento das dunas, eram utilizadas esteiras de vegetação nativa como junco ou vassoura para construir obstáculos ao longo das suas cristas.
Durante muito tempo foram utilizados caminhos de madeira, primeiro com taboas depois com estrados mais leves para o transito de veículos. A cobertura com saibro deu condições de trânsito constante sobre as dunas sem atolar. Para esta proteção lá estava seu Teófilo de pá nas mãos retirando a areia que invadia a pista em trabalho constante por tanto tempo quanto durasse o vento.
Ao sul lembro claramente das imagens das estruturas ferruginosas, por nós chamadas de “pedra ferro”. Como placas retorcidas, disformes de maneira regular, com pequenas cúpulas repetidas e unidas como se houvesse uma historia de ebulição e espuma na sua formação. Nossa fantasia permitia imaginar um navio ali encalhado e permanecido por longos anos sob a areia. Partes dela eram usadas como vasos ou cinzeiros nas casas dos veranistas quando tinham a forma de concha. Nesta região a areia perdia sua cor bege e se tornava quase vermelha pela mistura com resíduos destas pedras. Protegidos sob seus fragmentos viviam pequeninos e ágeis lagartos claros mimetizando com a cor da areia.
Entre as dunas maiores em setores mais baixos as chuvas formavam as “lagoinhas” de águas límpidas e profundidade segura que geravam verdadeiras romarias da adolescência da época que as aproveitava para banhos, duravam até quinze ou mais dias apesar da estiagem que se seguia.
Durante as precipitações mais copiosas a camada superficial ficava espessa, dura e escorregadia permitindo deslizar sobre ela. Esta eventual ocorrência era motivo e argumento essencial para que buscássemos lâminas de papelão desmontando as caixas separadas para mudanças ou utilizássemos as tampas de bacio que se transformavam em excelentes esquis. Esta folia se valia de rampas quanto mais altas maior a procura e se estendia até o por do sol e nascer da lua sempre belos sobre as areias e mais vistosos após as chuvas.
Outras vezes quando os ventos permaneciam soprando longo tempo na mesma direção a areia voava da crista da duna como se fosse um rabo de galo flutuante com desenhos mutantes para encher os olhos da gente e depois invadir a estrada.
Na beira, larga faixa de areia úmida debruava o mar, em sinuosa margem e suaves ondulações e sobre ela o vento soprava uma nuvem de areia se movia em movimento de serpente e ardia

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